De cara com um abusador

Bom dia, boa tarde ou boa noite. Como vocês estão?
Tive alguns dias bem perturbados, semana de provas na faculdade e pra finalizar a semana...fui assediada enquanto esperava o ônibus para ir pra casa depois da aula, na sexta (28 de setembro).
Não foi apenas um assedio "normal" qual o homem fala besteira e vai embora, aquele homem, um senhor de 57 anos parou do meu lado e de uma amiga que estava comigo no ponto, parou ali como se também fosse esperar o ônibus e então começou...a primeira coisa que ele nos disse foi "uma pequena dessa, se eu pego arrebento" então ficamos muito sem entender, olhamos para ele e depois nos olhamos confusas e não demos a mínima voltamos a conversar pois era o que estávamos fazendo antes dele chegar abruptamente do nosso lado. Então ele repetiu essa mesma frase e complementou "é que com um corpão desse..." então não me recordo o final da frase, mas confesso que fiquei muito, mesmo, muito impressionada de que os assédios dele eram dirigidos mais a mim. Afinal eu sempre pensei, de verdade, que por eu ser gorda jamais uma coisa dessas aconteceria comigo e ainda acho estranho, mas ele me tinha como alvo "principal", mas claro que não deixou de assediar minha amiga.
Ele dizia coisas do tipo "quer que eu te erga aqui agora?" e disse também para minha colega "quer que eu te erga? Então quer que erga sua amiga?", vocês entendem o que ele quis dizer com "erguer". A situação foi estranha, minha amiga ficou totalmente travada e tentamos voltar a conversar mais de uma vez para ver se ele parava de nos importunar, mas sem sucesso. Aquele homem então começou a nos contar uma história, dizendo que ele tinha um filho sei lá onde que ninguém sabia, disse que "pega" a mulher do "amigo" sem ele saber, claro, e que chantageia ela tirando dinheiro e ameaçando a filha de 17 anos que essa mulher tem. Disse que se ela contar dele pra alguém, vai engravidar a filha dela de 17 anos. Então com isso eu pensei na hora, ele não fica com aquela mulher pela vontade dela de trair o marido, tenho certeza que ele abusa dela e ela por medo de perder o marido e ser taxada como vadia fica quieta e acaba por ceder as chantagens daquele porco imundo.
Ele não é um homem normal, ninguém se vangloria por aí de abusar de pessoas e ameaçar meninas de 17 anos. Mas ele fez isso para nós.
Dizia também que não era para contarmos sobre ele pra ninguém, disse muitas vezes. Também disse que se saíssemos do ponto ele iria atrás.
Então em um momento eu não consegui mais ficar quieta, minha expressão dizia o quanto eu estava brava e incomodada, e ele percebeu. Então eu o encarava diretamente nos olhos todo o tempo pensando o que eu poderia fazer para ele sair dali sem que tivesse chance de fazer algo contra minha colega que estava mais perto dele e também contra mim. Eu ando com um taiser no bolso e ele estava em minha mão direita, ligado, qualquer coisa que aquele homem fizesse para cima de uma de nós eu ia dar um choque. Mas exitei durante muito tempo por medo dele bater em minha colega ou notar que eu tinha algo em mãos.
Ele vendo minha cara de muito incomodada começou a dizer "você tá brava gordinha?" e eu fiquei quieta, então ele disse novamente "você tá brava?" e em seguida "você tem duas coisas pra fazer, ficar brava agora e calminha depois" então olhou pra minha amiga e disse "né?". Ela estava totalmente paralisada ali e eu firme com o taser na mão só pensando em como poderia me aproximar dele.
Ah, um detalhe muito importante. A calça dele estava aberta, não com o genital de fora, mas o zíper estava claramente aberto e sua mão permanecia no bolso o tempo todo, da para imaginar o que ele fazia com a mão ali. Sua intensão não era somente incomodar duas mulheres que estavam esperando o ônibus para ir pra casa, era fazer mal a alguém, mas mal mesmo, se estivéssemos uma sem a outra naquele dia ele com certeza teria tentado algo a mais. Sua face era muito ameaçadora, me encarava nos olhos como se ele tivesse algum direito sobre mim e eu não conseguia tirar os olhos dos dele pois eu tinha todo direito de estar ali esperando meu ônibus.
Assim que ele disse sobre ficar brava e ficar calminha depois, cheguei no meu limite e ia partir para cima dele, mas então, nosso ônibus chegou e entramos correndo nele. O homem repetiu mais uma vez "não vão contar nada hein" e foi embora, seguiu a pé.
Eu pedi para meu namorado ligar para a polícia pois eu estava no ônibus e nervosa depois pra fazer isso, ele fez uma denuncia, dei a descrição perfeita daquele homem qual eu nunca mais ou esquecer a face, roupa, olhos, cabelo, nunca vou esquecer daquela voz nojenta. Ele estava querendo fazer coisa errada naquela noite, nós fomos apenas um aperitivo na mente doente daquele abusador. A polícia não fez nada e nem encontrou ninguém dentro da descrição. Ele pode ter feito algo pior com alguém naquela noite de sexta, uma mulher que estivesse andando sozinha pelo centro de Curitiba. Mas quem vai saber?
Então fui para casa, fiquei muito nervosa no ônibus, chorei quando entrei no carro do meu pai mas me acalmei pouco tempo depois e não chorei mais por aquele homem que queria nos fazer mal. Passei horas ouvindo coisas que eu deveria ter feito e blablabla...mas eu fiquei com tanta raiva de ter sofrido isso, pois eu como feminista sei dos meus direitos de ir e vir. E fico muito, mas muito mesmo, brava quando alguém fere meus direitos.
No dia seguinte eu sai de casa pela tarde, encontrei com meu namorado para irmos a passeata contra o candidato machista, racista e fascista, e meu namorado disse que eu estava muito elétrica e "pistola". E eu estava mesmo, sentia uma energia muito grade dentro de mim e uma raiva ainda maior.
Durante o dia tudo ocorreu bem, encontrei com minha prima e sua namorada, depois com meu irmão e sua esposa, o pai dela e a irmã também e um dos meus irmãos mais novos e sua namorada, foi muito bom ver essas pessoas naquele dia tão importante para todos e para nosso futuro. Sim, #elenão
Mas depois então, quando já estávamos lá na praça em frente a universidade federal, já de noite, resolvemos ir embora. Íamos comer em algum lugar mas íamos a pé, eu com meu namorado, meu irmão mais novo e sua namorada, estávamos andando juntos por ali em direção a rua XV. Mas então, logo ao lado do prédio da federal, começando a subir a rua, quem eu encontro, no dia seguinte do incidente no ponto de ônibus?
Sim, o abusador.
E ele não me viu, estava um pouco a minha frente, e olhou para a namorada do meu irmão como se ela fosse um pedaço de carne que acabou de sair da churrasqueira. Foi nojento. Eu levei um grande susto, meu coração parecia que tinha parado e meu peito doeu muito. Meu namorado queria ir até o cara com meu irmão e bater nele, mas não permiti afinal era capaz dos dois irem presos e o cara sair como vítima ainda, mas por sorte um pouco mais acima tinha uma viatura da polícia para lá e eu então corri, mas corri como nunca tinha corrido antes na minha vida e a viatura tava parada, não tinha necessidade, mas meu medo era daquele homem acabar indo muito a nossa frente. Cheguei no carro da policia e disse sobre o ocorrido, meu namorado pegou o assediador pelo braço e o levou também até o carro. Me perguntaram muitas vezes se era mesmo aquele homem, e era sim pois ele estava usando exatamente e mesma roupa da noite anterior, a mesma. Quando ele me viu disse que era só brincadeira, que não foi nada de mais. Acabamos indo para a delegacia.
Nunca em meus 25 anos de idade eu havia ido em uma delegacia e foi muito estranho. O policial perguntou da situação, averiguou o caso, mas como não foi um flagrante eles não poderiam fazer nada. Fiz um B.O. e fui liberada, o homem levou um advertência e também foi liberado. O policial disse que a única coisa que poderiam fazer era ver a fixa do homem e conversar com ele de forma "orientadora", mesmo com a nova lei que foi aprovada a poucos dias o fato não se adequava a ela pois o homem não colocou o pênis para fora, apenas estava com a calça aberta e nos ameaçando verbalmente então foi isso.
Fui para casa com um boletim de ocorrência em mãos, o homem foi para casa sendo agora registrado na polícia. Nada efetivo foi feito, todo mundo está me dizendo "tomara que ele se esperte pelo susto", mas sinceramente eu não acho que isso vá acontecer. Ele é um psicopata doente que gosta de ser machão com mulheres que estão sozinhas, gosta de ser machão ameaçando de estupro meninas menores de idade. Gosta de fazer extorsão em cima de uma mulher que ele abusou ou abusa sexualmente. Ele não é só um simples vagabundo que poderia estar embriagado, não, ele estava sóbrio e tinha total consciência do que estava fazendo para nós. Eu não acho que ele vá parar de fazer essas coisas e acho que vou vê-lo novamente pois eu antes do ocorrido tive a impressão que já vi a cara dele por isso exitei muito no começo pensando que ele era realmente um passageiro do mesmo ônibus que o meu.
Eu sei que vou vê-lo novamente, estando sozinha ou não. Sei que vou sentir aquela dor no peito de novo e não sei o que ele vai tentar fazer caso me veja e lembre de mim.



Isso me deu muita força par lutar ainda mais pelos meus direitos, lutar ainda mais contra um fascista de merda que diz que mulher é inferior, lutar ainda mais contra o abuso de menores. Eu vou lutar sempre e talvez mesmo com medo eu me sinta mais forte para reagir contra esse tipo de homem.

Comentários